Análise do texto “Saíde o lata de água
Análise
do texto “Saíde o lata de água”
Para começar importa referir que a
narrativa é um texto que possibilita contar e relatar factos, acontecimentos,
sejam eles verídicos ou fruto da imaginação. Elas caracterizam-se pela
construção e comunicação de uma acção ou de uma sequência de eventos, pelo que
se ligam, preferencialmente à ficção e mais imediatamente ao romance.
Na narrativa podemos encontrar elementos
como narrador, personagens, acção, espaço e tempo.
Este trabalho tem em vista esboçar uma
análise da diegese na narrativa retirada da obra Vozes Anoitecidas do escritor moçambicano Mia Couto, publicada em
1987.
Analise
Nesta pequena ficção é narrada a história
de Saíde personagem central desta diegese, representante do homem moçambicano,
um ser com desejos e asseios comuns de viver feliz e por via da união
matrimonial constituir uma família. Na narrativa deixa se transparecer que Saíde
é um homem proveniente de uma camada socialmente baixa «tarde de madeira e
zinco …» isto transparece o espaço
físico, como forma de se livrar dos vários problemas que o afectavam este
decide entregar se á bebida «Saíde volta para casa tropeçando pragas é
rasteirado pela cerveja toda noite entornada no seu desespero».
Numa noite, como de costume bêbado enquanto
voltava para casa é insultado pelos vizinhos, chega a casa e se recorda de como
conheceu Júlia Timane, presença de analepse,
isto é, recuo no tempo para se fazer perceber os factos do presente «lembrou se
dos tempos em que a conheceu foram lindos os dias de Júlia Timane…». Tendo se
evolvido com Júlia Timane, Saíde foi criticado pelos vizinhos, pois estes
afirmavam que ela era muito usada, «quando souberam que ele andava com ela condenaram-no.
Ela estava muito usada» facto que nos remete ao preconceito social.
Tendo este permanecido com Júlia Timane apesar
de ter sido criticado pela sociedade, estes não tardaram em chamar lhe de lata
de água e em toda parte alcunha substituiu o nome, estabelecendo comparativamente
relação com água, liquido que se adequa ou se ajusta a qualquer situação «olha
o lata de água, a mulher nem sai de casa desde que ele se meteu na bebedeira»
podemos chamar a isto de metáfora da despersonalização deste protagonista.
Tendo em conta que para a nossa sociedade
os filhos representam uma bênção e Saíde estava consciente disto, «um homem
pode ter barba, não barba, agora filhos tem que tirar é um documentos exigido
pelos respeitos…», sabendo que não podia tirar filhos propôs à esposa que se
evolvesse com outro homem no sentido de engravidar como forma de fechar a boca
de sociedade, e passar a ser visto como homem digno, só que com o passar do
tempo Saíde é traído pelas suas próprias emoções ao exigir da esposa o nome
verdadeiro do pai da criança «Júlia quero saber quem é o dono da grávida…».
Júlia não chegou a revelar-lhe o nome e
tudo parecia ir muito bem mas a criança ao nascer trazia a ele o misto de
alegrias e tristezas, Saíde estava cada vez mais inseguro e parecia que seu
segredo estava prestes a ser descoberto, já que via a criança como uma tremenda
ameaça pés embora a vizinhança não desconfiando de nada, este olhava para a
criança como um tremendo intruso como se pode verificar no excepto «Saíde
estava cada vez mais inseguro» razão pela qual passou a beber e a bater mais e
mais na mulher até que um dia esta o abandonou, e mesmo assim Saíde continuou a
fingir como se ainda estivesse com Júlia Timane enganando mais ainda a sociedade
e os vizinhos.
Como me referi de antemão que nesta
pequena ficção é narrada a história de Saíde personagem principal ou protagonista da diegese, porém temos as
chamadas personagens secundárias que
são aquelas que embora com algum valor inferior ao do protagonista auxiliam
nalgumas vezes na realização das acções do mesmo e nesta narrativa temos Júlia Timane,
a criança, os vizinhos e severino como secundárias e temos Armando como personagem aludida.
No que diz respeito ao narrador, este tem uma presença heterodiegética e quanto a focalização
este toma a posição de omnisciente,
já que este no texto demonstra conhecer tudo, mesmo até o que vai no íntimo das
personagens «sempre que se recordava trabalhavam facas dentro da alma»,
«ciumava dos cuidados que a mulher dedicava ao pequeno rival». Podemos notar a
presença de marcas de subjectividade
no texto, passagens em que o narrador dá sua opinião intervindo no texto «as
mulheres sempre recebem o prémio de se ter pena delas».
No texto não há presença de traços fisionómicos de Saíde e nem de
nenhuma outra personagem, mais podemos encontrar alguns traços psicológicos onde são enumerados os traços comportamentais,
neste quesito Saíde era um alcoólatra, frustrado e violento «queria feri-la
transferir para ela as dores que sentia» o seus traços
sociais levam-nos a pensar num homem da camada social baixa, no que
concerne à concessão podemos aferir
que é modelada, o comportamento dele
varia no percorrer da narrativa.
Na diegese temos três momentos o momento inicial, que é o momento do
equilíbrio da historia que compreende a seguinte passagem «tarde de madeira e
zinco. Com telhados pendurados […] lembrou os dias em que a encontrou: foram
bonitos os dias de Júlia Timane » e temos a complicação
que compreende a passagem «tinha havido muito tempo […] rasgando outra vez
o silencio da noite» , e finalmente
temos o equilíbrio ou situação final
que compreende a passagem «De repente, sentiu um barulho na porta […] Epá você
já sabe como são essas nossas mulheres».
No texto podemos encontrar duas Acções, a Principal que vai de «tarde de madeira e zinco […] foram bonitos os
dias de Júlia Timane» interrompe e retoma «as porradas que lhe queria dar
destinava-as à mulher e secundaria
que vai de «sentiu a força do vento na porta e acordou da lembrança», a acção
secundária compreende a restante parte do texto que por sinal é a analepse.
Podemos encontrar várias temáticas plasmadas no texto, sendo a
mais evidente a esterilidade, sendo
esta acompanhada pelo Conformismo/Inconformismo
«Júlia engravidou-se, ele festejou a noticia»; «Júlia, quero saber quem é o
dono da grávida»; «as vezes era seu outras era um intruso que o vencia». Alcoolismo: «rasteirado pela cerveja
toda tarde entornada no seu desespero»; Evasão:
«Cada tempo passava mais nas bebidas».
Podemos encontrar também na narrativa
marcas culturais que nos identificam ou seja marcas que identificam a nossa moçambicanidade
«a capulana que trazia…», «um homem pode ter barba não barba é um documento
exigido pelos respeitos», «levantou se e foi aceder o xipefo».
Importa também falar daquilo que é o
ensinamento ou moral história, esta que nos faz entender que o alcoolismo não é
a única via de resolução de problemas já que há sempre uma solução que possa
nos da ajudar a resolver todo tipo de problema. Da mesma forma que o fingimento
não é a única via para fugir dos nossos problemas porque tarde ou cedo a
verdade sempre aparece.
Autor: Benozório Martins
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