Análise do texto “Negra” de Noémia de Sousa
Análise do texto “Negra” de Noémia de Sousa
O titulo já sugere o objecto de que se fala no poema, que é uma mulher de
raça negra e de origem Africana. O poema foi escrito no período em que vigorava
o renascimento Africano, e Noemia de Sousa (Vera Micaia), conhecia muito sobre
este assunto, sobretudo da Negritude, isto devia-se ao facto dela ter tido a
oportunidade de ler artigos e revistas francesas que traziam os ideias da
Negritude, artigos que tinham como um dos autores Aimé Cesaire, conhecido como
o pai da negritude.
É com base nos ideais da negritude que Vera Micaia escreve este poema, o
poema gira em torno da supremacia e “bem falares” acerca da mulher negra sendo
que um do principais ideias da negritude e a valorização do homem negro.
No primeiro verso da primeira estrofe, o sujeito poético faz alusão aos
negros numa perspectiva europeia (na época colonial): “Gentes estranhas com
seus olhos cheios doutros mundos”, na época colonial os negros eram vistos como
gente estranha, senão gente que não era gente mas animais, gente com olhos
cheios mundos, mas que outros mundos? O sujeito poético refere-se ao
considerado de submundo, a feitiçaria e a magia “negra” aspectos que eram
atribuídos aos negros na época.
O sujeito usa a metáfora senão a comparação com a palavra “cantar” para
dizer que quiseram “fazer desaparecer” ou simplesmente falar dos encantos da
mulher negra, que para eles só era composto de um lado negro e sombrio, este
aspecto que também caracterizava África para eles.
Porem, a tentativa de “cantar” ou fazer desaparecer os encantos da mulher
negra em seus falares ou ainda falar negativa falhou pois por mais que sejam
ditos com a melhor eloquência do mundo ou mesmo sem qualquer tipo de emoção, a
verdade sobre estes encantos é inatingível e virgem de qualquer tipo de
contactos. E na tentativa falhada de manter esse contacto, confundiram a mulher
negra com alguns aspectos europeus, sobretudo da mitologia, aspectos como
esfinge de ébano, jarra etrusca, elementos relacionados à sensualidade, isto
talvez porque em termos de sensualidade as mulheres africanas sempre foram
apreciados devido à seus corpos atraentes, mas não só foram associadas à
elementos de sensualidade mas também elementos demoníacos como demência,
atracção, crueldade, animalidade, magia sem contar que o sujeito poético fecha
a estrofe dizendo “e não sabemos quantas outras palavras vistosas e vazias”
Em seus formais
cantos rendilhados
foste tudo,
negra...
menos tu.
Com estas palavras o sujeito poético diz que em todos os dizer e maus
falares eles disseram tudo que podiam dizer mas não disseram nada que fosse
pertinente, ou que concordasse com a verdadeira imagem e essência da negra.
Falaram tudo mas também erraram em tudo, não conseguiram dizer o que de facto a
mulher negra é.
E ainda bem.
Ainda bem que nos deixaram a
nós,
do mesmo sangue, mesmos nervos,
carne, alma,
Sofrimento,
a glória única e sentida de te
cantar
com emoção verdadeira e
radical,
a glória comovida de te cantar,
toda amassada,
moldada, vazada nesta sílaba
imensa e luminosa: MÃE
Ainda bem que nos deixaram a “nós”, que ”nós” estará a referir o sujeito poético?
O sujeito poético toma aqui a voz de um filho pois só um filho para ter o
mesmo sangue, mesmos nervos (que filho não sente pela dor da mãe?), carne, alma
e sofrimento (que filho não sente o sofrimento da mãe). Toma a voz de um filho
que sente prazer em cantar com a emoção verdadeira e radical a sílaba mãe.
Existe uma outra perspectiva de análise deste poema, dependendo dos vossos comentários
poderão trazer brevemente.
Por Benozório Martins.
Bom dia, gostei muito da explicação desse poema e muita força no trabalho, obrigado!
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