Relato e Analise da Musica "Setimo dia" de Mano Azagaias


ATENÇÃO: Este artigo é completamente pacífico, ou seja, sem intenção de ferir de qualquer maneira a sencibilidade de qualquer entidade, seja ela individual ou colectiva.

O preço da morte

05 de Outubro, acordei bem cedo e não tive a necessidade de nutrir a minha nudez com esses trapos que chamo de roupa, pois aqui dormimos grifados e se você se dar ao luxo de despir, estará fazendo uma oferta para o teu colega de quarto. Quarto? Refiro me a essas passarelas que frias e cheias de perigo. Meu grife!! refiro-me a esses pedaços de tecido que alguém suspendeu da sua vida por julgar não ter mais proveito. Refiro-me a esse par de sapatos diferentes, que pela cor lembra não só o racismo mas também o contraste  entre a vida do povo e a dos governantes. Refiro-me também à esse par de óculos, que só chamo de par porque não conheço outra designacao pois faltou me escola, não pela falta de neurónios mas pela falta de oportunidades.


Ontem era feriado, dia de descanso para aqueles que julgam que fazem algo e dia de trabalho para aqueles que realmente sofrem na rua todos dias. ‘’Aswifani’’ pelo menos ‘’depois da tempestade vem a bonança’’, como diz o ditado, e para nós mestres da rua não seria diferente. Como todos dias, contetores fartam-se e vomitam lixo a diferença é que para nós o lixo de hoje presta, bom talvez o município nem precise fazer a recolha de lixo hoje.

Como já havia dito hoje acordei mais cedo, pra ver se fico rei destas ruas antes que o município acorde e arruine meu negocio de venda de pets.


Bom! esta dando certo, eu e meu parceiro estamos recolhendo as garafas pet e já temos o suficiente, acho que é o suficiente. É um prazer saber que finalmente vou calar esse leão chamado meu estômago, que ruge à três dias esquecendo que estamos na rua.

O dia está feito e nosso deal também. Porém a felicidade do pobre dura pouco e a vida dos justos também, sem falar da vida de um “presidente integro”. Ai começo a pensar com o meu cérebro frito aos olhos da sociedade, imagino que podia estar em uma situacao pior, pois aqui para morrer não paga-se o preço da morte, ou se paga, pagará com 100% de desconto como numa blackfriday.

Analise Lírica

Video

Neste vídeo presenciamos uma cena em que um mendigo fala algumas verdade acerca da morte. Nesta cena mano Azagaias camufla-se em mendigo para falar algumas verdades que se pronuciadas por uma pessoa lúcida ou  de outra categoria social poderia ser julgado.


Porque mendigo?? Na verdade “mendigo” na sociedade representa um tolo, um individuo que por mais que fale a verdade nunca será dado ouvidos, pois julga-se o mesmo como demente, sendo que na verdade ele é sempre portador da verdade e não é responsável pela maioria dos seus actos.

Essa ideia já foi posta à vista de todos por Gil Vicente na sua peça “Auto da Barca do Inferno”, onde verifica-se que ninguém dá ouvidos ao tolo, sendo que no final ele é um dos poucos que ganham o previlegio de estar no paraíso.

Visto que a letra da música encontra-se numa linguagem meio conotativa, irei explica-la minuciosamente.

Letra

 “Aqui pra morreres, nem precisas ter nascido

 Matam-te na barriga da tua mãe com um comprimido”

Numa primeira fase, Mano Azagaias faz menção ao aborto, sobretudo aborto voluntário, usando a noçao da vida antes do parto para dizer que é possível morrer antes de nascer, sobretudo através de fármacos.

“Matam-te a tua mãe ou então um desconhecido

Com a mesma tesoura que ia cortar o teu umbigo”

O aborto retro mencionado pode ser causado pela própria gestante, ou então por outro individuo. Com o segundo enuciado, podemos concluir que o desconhecido referido é um agente da saúde.

“Pra morreres, pode ser no parto

Porque o pito da tua mãe não pagou o quarto

Ninguém atendeu depois d'ela ter gritado”

Esta parte leva nos a pensar nos rumores de que ao não pagar os serviços médicos, você recebe um péssimo tratamento hospitalar, chegando até a receber a morte como recompensa pelos serviços grátis. Neste enuciado podemos notar que mano Azagaias usa o termo “pito” o que nos leva a pensar em mães solteiras.

“Morreste ali na pia, ela sentada de quatro”

Este enunciado leva-nos a pensar novamente no aborto sobretudo antes dos três meses de gestação.

“Pra morrer dizem que és seropositivo

Teus dias tão contados, morres ainda vivo

E pra quem já perdeu a vida não encontra um motivo

Pra se esconder da morte atrás de um preservativo”

Este enuciado leva-nos a pensar na musica ABC do preconceito quando chega-se a letra “s, “seropositivo de positivo so o nome, foi ao bicho com muita fome, agora o bicho é que lhe come, tratado como lixo até que nisso se transforma e mais que a doença é isso que lhe consome”. Mano Azagaias leva-nos à nocao de que o sida mata mesmo antes que a morte propriamente dita bata a porta, e dela só se safam os mortos porque até os seronegativos vivem ameaçados, dai o uso do presevativos.

 “Pra morreres, pode ser feitiço

Pode ser porque os teus pais queriam subir no serviço

Deram-te como sacrifício aos ossos do ofício

Acabas desgraçado, assassinado por um vício”

Neste enuciado, Mano Azagaias faz mencao às práticas supersticiosas de sacrifício, para obter algum benficio. E em algumas vezes o sacrifício não se manifesta por via da morte, mas tem casos em que o filho é desgraçado, tornando-se o filho problemático da família.

“Se defendes as tuas crenças, matam-te com as tuas crenças”

Com isto, presume-se que aqui é possível morrer com o tiro da tua própria arma, os teus ideais é que te levam à cova. (Não falei nada)

 “Aqui pra morreres não precisas ter doenças

Há juízes que morrem por lerem sentenças

Não precisas ser velho pra morreres de um AVC

Aqui podes morrer se não souberes ler

Morres sem saber que o que comes é veneno

Morres porque és grande, morres porque és pequeno

Aqui quando morres não acordas no terceiro dia

Lançam-te na terra e regam-te pelo sétimo dia”

Não é só doença que mata, aqui se és desejado morto, morres por qualquer motivo. Sendo jovem é possível morrer por uma doença que apenas mata velhos. O importante é estar morto e acordar no terceiro dia, pois depois de te lançar na terra, esperar ir pôr-te água ao sétimo dia.

“Matam-te à noite, mas quando te matam de dia

É pra pagares o preço da tua rebeldia”

Este enuciado remete-nos à duas vertentes, nomeando, a feitiçaria e o assacinato, sendo que este segundo só acontece em casos de desobediência.

“Aqui quando morres ficas herói dos que te matam

No dia do teu velório eles é que choram, eles é que cantam

Eles é que mandam estudar fora os teus filhos

E quando eles crescem, tornam-se padrinhos

Aqui quando morres, levam-te ao suicídio

Matam-te a reira, depois dum convívio

E nem precisas ser presidente d'um partido

Matam-te por seres presidente do município”

A pessoa que te mata é aquela próxima, da qual você fica muito próxima e consequentemente indefeso . ele parece ser amigável sendo que na verdade não é. O desejo dele é eliminar-te independentemente de quem você for.



Relato e analise lirica da musica e video “Setimo Dia” do reaper moçambicano Edson da Luz, mais conhecido por mano Azagais.



A minha intenção é de que esse artigo chegue ao olhos do Mano Azagaias, então, por favor, vamos compartilhar até chegar a ele!
 Assista ao video da musica

Este artigo não tem nenhuma relação com o fio de pensamento de cantor. Isto é apenas a minha interpretação do enuciado do reaper. (podia ter sido melhor, mas tenho medo de pagar o preço da minha rebeldia)

Por Benozório Martins
Tel. 848732774
Assista AQUI ao outro relato do mesmo autor!

 




Comentários

Mensagens populares deste blogue

Como GANHAR DINHEIRO com FACEBOOK em Moçambique

Como Vender muito através do FACEBOOK

Análise do poema “Carregadores” de Rui de Noronha